A deterioração das igrejas locais

“Quando vindes para comparecer perante Mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os Meus átrios?” (Isaías 1:12)

Uma simples observação do que foi a igreja no início, no livro de Atos, de como eram as suas reuniões e como continuaram algum tempo depois dos apóstolos, observando seus ensinos, servirá para nos conscientizarmos de que as igrejas locais, em sua maioria, estão hoje em um desastroso processo de deterioração. Alguma vez, amigo leitor, você já parou para verificar se o que estamos fazendo, como igreja do Senhor neste mundo, está de acordo com o modelo, a doutrina dos apóstolos? Aquilo em que estamos gastando nosso tempo, entusiasmo, energia e dinheiro, dizendo que fazemos para a glória do Senhor, será realmente algo que Ele tem desejado receber de nossa parte? Onde podemos basear nossa certeza de que Ele está satisfeito conosco? Estamos nos envolvendo em alguma atividade porque sabemos, pelo Novo Testamento (que é onde se encontram as doutrinas para a igreja), que o Senhor exige de nós tal coisa? Ou fazemos esta ou aquela obra porque gostamos de fazer, e porque as denominações mais importantes fazem, ou porque os nossos antepassados determinaram e nós nos acostumamos a cumpri-las? Creio, queridos irmãos, que nós estamos aborrecendo o Senhor em muito daquilo que fazemos atualmente, mesmo tendo a intenção de agradá-lO. Creio também que muitas das atividades nas quais nós nos envolvemos ultimamente, têm sido puramente uma busca de auto-satisfação e vaidade humana. O texto de Isaías 1:11-15 tem se tornado muito atual para nós nestes últimos dias:

“De que me serve a Mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o SENHOR? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem Me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. Quando vindes para comparecer perante Mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os Meus átrios? Não continueis a trazer ofertas vãs; o incenso é para Mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembléias; não posso suportar iniqüidade, nem mesmo a reunião solene. As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a Minha alma as odeia; já Me são pesadas; já estou cansado de as sofrer. Por isso, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os Meus olhos; e ainda que multipliqueis as vossas orações, não as ouvirei, porque as vossas mãos estão cheias de sangue”

É notável o aborrecimento do Senhor com o Seu povo neste tempo apresentado por Isaías. No entanto, há um ponto a ser considerado: aquelas pessoas não estavam fazendo algo inventado por eles para agradar ao Senhor; estavam cumprindo as leis rituais do Velho Testamento! Por que então o Senhor não estava aceitando o que eles faziam? “… não posso suportar iniqüidade, nem mesmo a reunião solene” (vs.13b) “Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos.” (vs.16). O aborrecimento do Senhor devia-se ao fato de estarem fazendo o Seu serviço associados à iniquidades. Mas, hoje, somos culpados de outra coisa: estamos fazendo aquilo que Ele não mandou, o que Ele não pediu, o que a Palavra no Novo Testamento não ordena, e além disso estamos colocando estas coisas no lugar daquelas que o Senhor exigiu em Sua Palavra. Em outras palavras: não fazemos o que Ele ordenou, porque estamos ocupados com aquilo que Ele não determinou. Há ainda outro fato registrado no Velho Testamento que também tem se tornado bem atual: é o caso de Davi quando desejou recuperar a arca do Senhor e trazê-la para Jerusalém (I Crônicas 13). A sua intenção era muito boa, excelente, mas a maneira pela qual ele determinou trazer a arca para Jerusalém estava totalmente fora dos princípios estabelecidos na Palavra do Senhor. Ele fez um movimento muito grande, com muita gente, muita pompa, muita música, mandou construir a arca, arranjou os bois e tudo estava saindo muito bem, até que houve uma intervenção do Senhor desaprovando o que estavam fazendo. A alegria tornou-se em tragédia! As Escrituras não podem ser quebradas, nem menosprezadas, sem que haja prejuízo e ação disciplinadora do Senhor. A maneira correta de se carregar a arca estava determinada na Palavra de Deus, mostrando a maneira simples e pura em que se devia tratá-la. Davi menosprezou a simplicidade da Palavra do Senhor e sofreu grande desapontamento. Posteriormente, porém, Davi procurou consultar a Palavra de Deus e corrigiu o seu erro, acertando com a vontade do Senhor (I Crônicas 15). Hoje, temos sido culpados da mesma atitude: não acreditamos que a simplicidade da Escritura seja suficiente para vencer o mundo pós-moderno, não acreditamos que a simplicidade das reuniões de acordo com I Coríntios 14 possa atrair os pecadores, nem os crentes; não acreditamos que nossos irmãos, espirituais, que são simples demais, sejam suficientes para pregar em nossas grandes conferências, precisamos de títulos acadêmicos, não acreditamos que os cânticos simples, cantados por todos, possam agradar ao Senhor e nem “atrair muita gente”, precisamos de cantores profissionais com suas bandas e acúmulo de equipamentos sonoros que estremecem as vidraças e transmitem uma aparência de grandeza; não acreditamos na Pregação da Palavra, isto é, na proclamação firme das verdades da Palavra por meio de um irmão com o dom de ensinador, precisamos de um professor para promover uma livre e descontraída discussão onde todos possam dar a sua opinião na “Escola Dominical” (que, aliás, foi criada com a finalidade de evangelizar alunos perdidos, e não para doutrinar a igreja). Semelhantemente ao que Davi fez, estamos hoje menosprezando as orientações de simplicidade para a igreja e criando os nossos “carros novos” para fazermos o “trabalho do Senhor”. Irmãos, é tempo de colocarmos a igreja local onde nos reunimos frente à frente com o modelo apresentado no Novo Testamento, e olharmos com atenção para detectarmos aquilo que está na igreja hoje que foi introduzido por nós e não pelos apóstolos. Vejamos também aquilo que os apóstolos determinaram para a igreja, e que nós temos tirado para colocar outras coisas. Uma leitura cuidadosa da primeira carta aos Coríntios será de grande auxílio para examinarmos estas questões, pois trata de muitos assuntos referentes à vida da igreja. Não era uma carta dirigida apenas à igreja em Corinto, pois ela foi endereçada a “… todos os que em em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nossos” (I Coríntios 1:2). E também porque os ensinos dados nela foram reafirmados em outras epístolas. Timóteo, que foi orientado para servir em outras igrejas, também recebeu os mesmos ensinos contidos nela, e deveria transmiti-los a outros (II Timóteo 2:2; 3:10,14; I Timóteo 4:8-14). Seria interessante que nós gastássemos algum tempo examinando algumas das práticas comuns em nossas igrejas locais, para descobrirmos se estamos fazendo realmente o que o Senhor manda, lembrando o que o Senhor falou em João 15:14: “Vós sois Meus amigos se fazeis o que Eu vos mando”.

  • Onde encontramos apoio no Novo Testamento para gastarmos quarenta minutos ou uma hora em apresentações musicais nas reuniões da igreja, incluindo pessoas que nem batizadas são?
  • Onde poderemos encontrar no Novo Testamento um texto que nos dê apoio para a separação (nas reuniões da igreja) de classes de senhoras, moças, senhores, jovens, casados, solteiros, etc? Qual dos apóstolos disse que os ensinos deveriam ser diferenciados, tratados separadamente para cada classe?
  • Onde no Novo Testamento ensina-se a reunião administrativa com toda a igreja reunida, onde todos, homens e mulheres, possam falar, votar, exigir e resolver os problemas da igreja democraticamente? Por favor, não citemos Atos 15 para apoiar esta prática, pois é justamente este trecho que a proíbe. Ali o irmãos foram recebidos por toda a igreja, pelos apóstolos e presbíteros para dar os relatórios (vs.04). Quando foram resolver a questão apresentada, reuniram-se apenas os apóstolos e presbíteros (vs.06). Depois de analisada e resolvida a questão, comunicaram-na a toda a igreja, e escolheram e enviaram os irmãos para o serviço (vs.22).
  • Onde encontramos nas listas dos dons espirituais, concedidos à igreja pelo Espírito Santo, o dom de coreografia, dom de música ou dom de ministério de louvor?
  • Quem no Novo Testamento era líder do período de louvor em alguma igreja?
  • Qual texto nos dá apoio para elegermos um presbítero como presidente da igreja? Qual igreja no Novo Testamento era governada por um presidente?
  • Onde no Novo Testamento ensina-se a diferença entre congregação e igreja local?
  • Em qual capítulo das epístolas aprendemos sobre a necessidade de registrarmos um relatório sobre cada reunião dominical, com detalhes sobre tantos presentes, tantas Bíblias, tantas visitas, etc, ocupando no momento do estudo da Palavra de Deus, irmãos que poderiam estar aprendendo e sendo edificados?

No início as igrejas reconheciam que deveriam ser guiadas unicamente pelas Escrituras, seguiam de perto os ensinos e tradições apostólicas, eram governadas em cada localidade por um grupo de anciãos espirituais, exerciam disciplina para manter a santidade e simplicidade, as reuniões eram realizadas para edificação dando liberdade para os dons se manifestarem livremente, trazendo ensino, esclarecimento, encorajamento, exortação. Os cânticos eram apenas uma expressão de gratidão e adoração dada pelo Espírito Santo no momento das reuniões, onde todos juntos podiam expressar sua apreciação ao Senhor. Não havia “show” de apresentações, e quando o ensinador vinha trazer a Palavra, todos estavam ainda descansados e atentos.

Graças ao Senhor, não foi só naqueles anos iniciais que a igreja permaneceu pura e simples, mas mesmo depois, quando houve um afastamento grande dos princípios bíblicos, muitos crentes não aceitaram a corrupção estabelecida, e formaram igrejas locais menores (não denominações) procurando preservar a pureza dos primeiros dias. Estas igrejas continuaram pregando o Evangelho com zelo, ensinando e fortalecendo os crentes no conhecimento das Escrituras e mantendo a simplicidade conforme os princípios do Novo Testamento. Algumas destas igrejas se tornaram grandes e influentes, outras permaneceram pequenas mas firmes, outras foram cruelmente perseguidas e se espalharam. Mas, uma coisa podia ser notada nestes crentes: eles amavam as Escrituras e ao Senhor.

Irmão(ã), você é alguém preocupado(a) com o atual estado de coisas? Tem no coração o desejo de que as igrejas voltassem a ser mais próximas da simplicidade apresentada nas Escrituras? Gostaria de ver a Palavra de Deus sendo mais apreciada nas reuniões e sendo aplicada aos corações pela livre e poderosa atuação do Espírito Santo? Deseja uma maior liberdade para que os irmãos que possuem os dons de ensino, pregação, exortação possam se manifestar nas reuniões sem a necessidade de obedecerem a um programa rigorosamente estabelecido? Tem estado preocupado com a tendência teatral e dos shows que tem invadido as igrejas?

Oremos, suplicando ao Senhor para que mova os corações, abra os entendimentos, traga esclarecimento, purifique as igrejas para que Ele mesmo se “sinta bem em nosso meio”.

“Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tiago 5:16)

 

 

Nota da edição: Já publicado pela Editora Sã Doutrina, em formato de livreto, a publicação deste texto neste site foi devidamente autorizado pelo seu autor.

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